Quinta, 5 de junho de 2025
Em 2023, escrevi o artigo "Desafios Psicossociais do Aluno: Desenvolvimento, Aprendizagem e Bem-estar – Vínculo Essencial", para a coletânea Os Desafios da Educação Nacional. Nele, defendi que o cuidado com o estudante começa pela escuta e pela construção de vínculos significativos.
Mas, ao mesmo tempo, uma pergunta ainda ecoa nas instituições educacionais:
E quem escuta os professores e colaboradores?
Quem ampara o educador exausto, o gestor sobrecarregado, a equipe administrativa que sofre em silêncio?
Com a recente atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR 1), que reconhece os fatores psicossociais como riscos ocupacionais, temos agora um respaldo legal para repensar profundamente a saúde mental de todos os envolvidos no ambiente educacional. Isso inclui não apenas os estudantes, mas todos que constroem o cotidiano das escolas e universidades.
São condições organizacionais, relacionais e emocionais do trabalho que podem afetar a saúde mental e o bem-estar dos trabalhadores. Esses fatores incluem:
• Exigências emocionais elevadas
• Ambiguidade de papéis
• Falta de apoio ou reconhecimento institucional
• Conflitos interpessoais ou com a liderança
• Pressões por produtividade sem recursos adequados
• Assédio, violência simbólica ou isolamento
Esses riscos, quando não identificados e tratados, comprometem o desempenho profissional, aumentam os afastamentos por adoecimento psíquico e afetam a qualidade das relações dentro das instituições.
Na prática, os ambientes escolares e universitários estão entre os mais afetados por fatores psicossociais, especialmente pelo esgotamento docente, a pressão por resultados e o despreparo institucional para lidar com as emoções. A sobrecarga, a invisibilidade funcional e a naturalização do sofrimento transformaram o trabalho educacional em um espaço de alto risco para a saúde mental.
Mais do que formação pedagógica, professores e equipes escolares precisam de suporte emocional, reconhecimento e espaço para serem ouvidos.
A nova redação da NR 1 torna obrigatório o mapeamento e a prevenção dos riscos psicossociais como parte da gestão de saúde e segurança no trabalho. Isso inclui:
• Diagnóstico do ambiente organizacional
• Implementação de políticas de prevenção
• Criação de canais de escuta e acolhimento
• Ações formativas para lideranças e equipes
É responsabilidade das instituições estruturar estratégias concretas para cuidar da saúde emocional dos seus profissionais. Não se trata mais apenas de uma boa prática, mas de uma exigência legal, ética e pedagógica.
Uma das principais recomendações diante deste novo cenário é a criação de canais institucionais de escuta ativa e acolhimento psicológico. Esses espaços não devem ser meramente formais ou punitivos, mas sim configurados como territórios de confiança, empatia e orientação.
Além disso, ações formativas voltadas à gestão das emoções, comunicação não violenta e fortalecimento de vínculos institucionais devem ser parte do plano estratégico das instituições educacionais.
Quando há espaço seguro para falar e para ser ouvido, é possível transformar o sofrimento em aprendizado organizacional e prevenção ativa.
A pergunta "e quem cuida de quem ensina?" não pode mais ser ignorada.
A atualização da NR 1 nos desafia a transformar o cuidado em política institucional, a escuta em rotina e o bem-estar em métrica de qualidade educacional.
Cuidar de professores e colaboradores não é apenas uma medida de saúde ocupacional – é uma condição para que a educação aconteça de forma plena, ética e sustentável.
Adriana Mello é mestre em Administração, neuropsicopedagoga e especialista em performance cognitiva e aprendizagem. Atua com programas de saúde mental, estimulação cognitiva e cultura organizacional em escolas, universidades e ambientes corporativos.
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